Uma noite, quando entrei num restaurtante, percebi que havia um grupo de três mulheres que falavam uma língua diferente, que logo conclui que deveria ser algum dialeto africano, a julgar pela aparência e pelas roupas que elas usavam. Fiquei muito curioso, pois era a primeira vez que ouvia um dialeto africano assim “in diretta”. Contudo, o mais curioso era que, em meio àquelas palavras para mim completamente incompreensíveis, saltavam algumas palavrinhas italianas do tipo “ecco”, “allora”, “va bene”. A minha curiosidade foi tanta que não aguentei e me aproximei delas, tentando, inicialmente, me comunicar em inglês, mas nenhuma delas entendia.
Nesse meio tempo, chegou uma menininha bonitinha e chamou uma delas de “mamma”, e ela lhe respondeu “dimmi, cosa vuoi?”, com um italiano, digamos, “africanizado”, com uma cadência muito dura e bem diferente do italiano falado na Itália, mas era italiano. Foi quando eu perguntei: “come mai parli italiano?”, e ela, com muita propriedade, me respondeu “é la lingua del mio paese”. O país era a Eritreia, que, para a minha total surpresa e ignorância, naquele momento, eu nem sabia (ou não me lembrava) em que parte da África ficava.
Quando cheguei em casa, a primeira coisa que fiz foi pegar meu "ANDROID" e tentar localizá-lo, assim como ler um pouco da história desse pequeno país situado no Chifre da África.
Na realidade, a Eritreia não tem uma língua em nível oficial, sendo as mais usadas pelo povo o árabe, o etíope, o inglês e o tigrínia (língua semítica etiópica, que aliás era a língua que elas estavam falando, considerada língua nacional) além de muitas outras. Mas essa informação elas não podiam me dar, pois eram pessoas muito simples. Talvez vocês estejam se perguntando, então, por que elas falavam italiano. Pois bem, após a abertura do Canal de Suez, em 1869, na época da corrida das grandes potências europeias em direção à África, a Itália invade a Eritreia, ocupando-a; em 1° de janeiro de 1890 esta torna-se oficialmente uma colônia italiana. Em 1936, será também uma província da África Oriental Italiana, juntamente com a Etiópia e a Somália Italiana, situação que permanecerá até quando as forças armadas britânicas expulsarão os italianos, em 1941. Logo, não é difícil imaginar o porquê da língua italiana ser falada por uma boa parte da população.
O ponto mais interessante disso tudo é que este fato despertou em mim certa curiosidade em saber onde é que no mundo a língua italiana era considerada oficial (ou nacional), além da Itália, Vaticano, Suíça, Malta e San Marino. Confesso que nos tempos de universidade esta questão nunca sequer foi cogitada, e a meu ver é importantíssima. De acordo com estimativas da Sociedade Linguística Internacional, atualmente no mundo existem cerca de 66.5 milhões de falantes de língua italiana, dos quais 60 milhões se encontram na Itália e 6,5 no estrangeiro. É importante ressaltar – e desse aspecto falaremos mais adiante – que os imigrantes italianos que chegaram ao Brasil entre 1875 e 1935 (cerca de 1,5 milhões) não falavam o italiano “standard” (padrão) que hoje conhecemos, mas dialetos, pois a língua italiana estava começando a se difundir naquela época.
Colocamos, a seguir, os países (continente) onde a língua italiana é oficial:
- Itália
- Suíça
- Eslovênia
- Croácia
- República de San Marino
- Vaticano
- União Europeia
- Albânia (língua estrangeira mais ensinada nas escolas)
- Argentina
- Austrália
- Bélgica
- Bósnia e Herzegovina
- Brasil
- Canadá
- Chile
- Egito
- Eritreia (falada em nível de segunda língua e nacional)
- Etiópia (usada em nível nacional)
- França (usada em nível regional na Córsega e em Nice.
- Alemanha
- Israel
- Líbia (língua oficial desde 1943; atualmente língua oficial)
- Liechtenstein
- Luxemburgo
- Malta (língua oficial até 1934; atualmente em nível de segunda língua e comercial)
- Mônaco
- Montenegro
- Paraguai
- Filipinas
- Porto Rico
- Romênia
- Arábia Saudita
- Somália
- Tunísia
- Emirados Árabes
- Reino Unido
- Estados Unidos (língua usada pelos emigrantes em New England e New York/New Jersey como língua regional)
- Uruguai
Nos próximos posts abordaremos mais a questão da língua e dos dialetos na Itália. Aguardem!
Arriverderci e buono studio!